Estamos a assistir à mais dramática situação de falta de água de que tenho memória, com uma impressionante rapidez no seu agravamento, traduzida pelos números apresentados pelo IPMA que, em apenas quinze dias, confirmou que o país duplicou a situação de seca severa e extrema, de 46% para 91% da área afectada.

A gravidade destes indicadores impõe a adopção urgente de medidas de apoio ao sector agrícola que possam ser postas em prática na primeira semana de Março. Porém, aquilo que ouvimos da ministra da Agricultura foi o anúncio de medidas que não permitem saber o essencial: como, quando e quanto. Como se conseguem, quando chegam, quanto valem?

Por isso, o nosso apelo vai para o Primeiro-ministro, porque acreditamos que só ele dispõe do poder necessário para desbloquear este impasse e garantir a atribuição rápida de apoios ao sector. Não é aceitável ter de esperar pela tomada de posse do novo governo para ver estas matérias decididas e em vigor.

Esperemos que esta situação extrema possa ser detonadora de um conjunto de mudanças estruturais e de base tecnológica que garantam uma gestão multiusos das barragens existentes, a construção de barragens de pequena e média dimensão, um transvase de água do Douro para o Tejo, do Tejo para o Guadiana, do Guadiana para o Algarve, numa ‘auto-estrada de água’ que disponibilize este recurso hídrico a todo o interior do país, como um verdadeiro plano de gestão eficiente e ambientalmente sustentável da água em Portugal.


LUÍS MIRA

Secretário-geral da CAP